Lula dialoga com o mundo e Bolsonaro delira no deserto
Lula é recebido na Europa como chefe de Estado enquanto Bolsonaro mente no Oriente Médio
Em Berlim, reuniram-se com o presidente da instituição, Martin Schulz e em Bruxelas com o bloco de partidos de centro-esquerda no Parlamento Europeu. Na França, Lula regressou à Sciences Po, onde recebeu o título de honoris causa dez anos atrás, e encontrando-se com a prefeita de Paris e presidenciável do agora nanico Partido Socialista, outro parceiro histórico do PT no continente.
Até aí, nada de surpreendente na agenda do ex-presidente, que frequenta os círculos políticos europeus desde os anos 1980, quando disputava a atenção das lideranças com outro sindicalista, o polonês Lech Walesa.
O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é recebido pelo presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu nesta quarta –
O encontro com o discreto Olaf Scholz, líder da SPD e primeiro-ministro designado da Alemanha, foi a agenda mais política e a audiência com Pedro Sánchez, premiê e líder dos socialistas na Espanha, também são esperadas para o ex-chefe do Executivo de uma potência média e líder do maior partido social-democrata do Sul Global, junto com o Congresso Nacional Africano, da África do Sul.
“Macron considerou Lula uma personalidade com a qual era pertinente ele se encontrar”. disse uma fonte sa.
Macron é um globalista solitário, se elegeu prometendo colocar o país no centro da arena internacional, mas teve de aprender a conviver com lideranças em declínio, como Angela Merkel, e o abominável Donald Trump.
Macron quer usar a política ambiental para unir em torno do projeto europeu um novo bloco de países do sul. Potência amazônica, democracia em reconstrução e liderança regional, o Brasil idealizado por Lula na Sciences Po, onde Macron estudou, seria uma peça-chave na estratégia internacional de um eventual segundo mandato do presidente francês.
Lula também ajuda o europeu em suas ambições eleitorais. O petista goza de prestígio considerável entre o eleitor francês de esquerda, que Macron precisa a todo custo mobilizar para fugir da armadilha da abstenção em um provável segundo turno contra um candidato de extrema direita nas presidenciais de 2022.
A aura do ex-presidente brasileiro aproxima o mandatário dos apoiadores de Hidalgo e do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, do mesmo jeito que Barack Obama —ex-presidente de quem Macron se aproximou na campanha de 2017— o ajudou a consolidar as suas credenciais entre os eleitores centristas.
Todos esses fatores estimularam o presidente francês a enforcar o protocolo, mas nada contribuiu mais para o encontro desta quarta do que o vandalismo diplomático de Jair Bolsonaro, as piadas homofóbicas de seus apoiadores sobre Macron respingaram nas redes sociais europeias, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, aproveitou os protestos dos coletes amarelos para chamar o francês de idiota.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi ainda mais longe e agrediu com insultos misóginos a primeira-dama Brigitte Macron. A vingança é um prato que se come frio, de preferência acompanhado por um bom vinho francês.
Fonte: Folha de São Paulo