Nas entrelinhas de junho: A poesia estanciana em época de festa
Em “Genipapo Absoluto” Caetano Veloso descreve poeticamente junho como um mês de “fumaça e frio”. Acredito que essa descrição não seja estranha para nenhum estanciano, afinal, o vento frio e o perfume-pólvora nos embalam durante todo o mês 06. É fácil falar da cultura estanciana em período junino, de como ela é rica, inebriante e ancestral. Mas o meu propósito nesse texto é um pouco mais subversivo ou talvez tangente… Quero registrar como a poesia estanciana também existe e atravessa esse mês.
O quadro é perfeito: espada, barco de fogo, batucada, licor e forró. É lindo, é poético, é sagrado e festivo, mas não é só isso que Estância tem e mostra de melhor em junho. Todos os anos, poetas estancianos viajam para a terra de Arthur Bispo do Rosário e das cabacinhas, levando o melhor da literatura estanciana. Uma vez que, Japaratuba, assim como Estância, celebra e estimula o fazer poético por meio da realização do Festival de Poesia Falada “Poeta Garcia Rosa”.
Neste ano, 26° edição do festival, Estância classificou 08 poetas entre 15 para representar a nossa cidade em nível estadual, e como prova da nossa potência literária e performática, conquistamos 04 premiações de 05. É nesse cenário de vitórias e belezas, que registro o nome dos artistas que nos representaram no Festival de Poesia Falada de Japaratuba 2023: Adonnys Diniz, Ana Mércia, Antônio Neto, Cláudio Hiroshy, Deivesson Lima, Francisco Sousa, José Edson e essa que vos escreve, Thalita Síntique. Assim como os intérpretes: Thaylane Aragão, Vitória D’Almas e Yoran Rayckard.
A beleza e a importância do São João estanciano é indiscutível. Contudo, não podemos esquecer de que Estância é uma cidade multicultural e isso precisa, urgentemente, ser uma tônica durante o ano inteiro. Até porque, as manifestações culturais coexistem todos os dias e os artistas também. Por isso, é essencial registrar e lançar olhar para o que acontece nas entrelinhas de junho e de todos os outros 11 meses, porque a diversidade cultural de Estância não dá pausas, tampouco é temática. É preciso ver o peso da arte em tudo que fazemos e consumimos, no bater da zabumba, no gosto bom do munguzá, nas tramas do crochê e na absoluta alquimia do licor de jenipapo.
Thalita Síntique
Texto maravilhoso, Estância respira e inspira arte, feita vividamente pelo seu povo. Parabéns irmã poetisa, Thalita pela escrita e registro.