O centenário de Nivaldo Silva Carvalho (1923-2023)


Por José Domingos Machado Soares (Dominguinhos)

O empresário e político, Nivaldo Silva Carvalho (foto), completa em 09 de fevereiro deste ano, um século de nascimento, com uma trajetória de vida compartilhada com áreas relevantes da “Cidade jardim” e um legado que alcança a contemporaneidade.
Filho do senhor David Domingues de Carvalho (proprietário da Fazenda Cotovelo) e de dona Maria Antônia da Silva Carvalho (dona de casa), tinha nove irmãos: Arivaldo, Belisa, Célia, Lucila, Renato, Rivanda, Suzana, Valdemar e Zelita.
Na questão familiar não seguiu o exemplo de seu pai, constituindo uma extensa prole e teve apenas dois filhos: André Silva Carvalho e Manuel Dantas Carvalho (In memoriam).
Com uma infância relativamente humilde, estudou o primário no “Grupo Escolar Gumercindo Bessa”, mas infelizmente não teve como prosseguir com os estudos, pois precisou trabalhar muito cedo.
Com apenas 15 anos de idade, começou a laborar na garagem do senhor Antônio Fontes Costa (o Tota), situada na Rua Capitão Salomão, onde se vendia combustível e se guardava os poucos veículos e caminhões que pernoitavam na cidade à época.
Em 1939, atuou como caixeiro do senhor Adelaido Souza, militante comunista, defensor de causas libertárias, e cerca de dois anos depois se tornou balconista, período que provavelmente descobriu a sua vocação para o comércio.
A partir daí montou a sua primeira experiência mercantil, que foi uma “bodega” de secos e molhados na movimentada Avenida Getúlio Vargas (antiga Rua Nova). Dali somente mudou, em 1950, para a rua Duque de Caxias, o “Pernambuquinho”. Ao lado do mano Arivaldo Silva Carvalho fundou o armazém: Nivaldo Silva e Irmão.
Em 1959, inaugurou a loja de móveis, Lar Jóia, na rua Capitão Salomão, que teve filiais nas cidades de Boquim (SE) e Esplanada (BA) – esta última foi uma referência no segmento durante muitos anos.
Paralelamente à condição de empresário bem sucedido, presidiu o Estanciano Esporte Clube; integrou o Conselho Deliberativo do Cruzeiro Esporte Clube e foi ainda sócio contribuinte e secretário da Centenária Lira Carlos Gomes, na Diretoria de Dr. Jessé Fontes.
Nivaldo Silva presidiu ainda a Associação Beneficente Amparo de Maria, mantenedora do secular hospital homônimo. Nessa oportunidade, pleiteou junto ao governo do estado a construção de um prédio moderno, bem como o Pronto Socorro.
E para animar à população estanciana no período momesco, mandou construir o “Trio Elétrico Luminosidade”, assim denominado devido à quantidade de lâmpadas laterais e que arrastava grande número de foliões pelas ruas e praças da cidade.
Na sua extensa folha de serviços prestados à municipalidade, reivindicou também do governo estadual a construção do Estádio Augusto Franco (Francão), da pavimentação asfáltica da estrada do Abaís (SE-470), do Centro de Atrações Juninas, o Forródromo Rogério Cardoso (antigo João Alves Filho) e do Matadouro Municipal.
Homem de perfil autoritário, conservador e clientelista, entrou na política pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido da famigerada Ditadura Militar (1964-1985) e dele mudou apenas para o seu sucessor, o Partido da Frente Liberal (PFL). Nessas agremiações, foi vice-prefeito de Walter Cardoso Costa (1977-1982) e deputado estadual (1987-1990).
Na condição de vice-prefeito, e por conta do afastamento temporário do titular, assumiu os destinos do município por alguns dias, determinando a realização de alguns serviços urbanos que culminaram numa série de disputas políticas e nunca mais reataram a boa relação.
Após duas derrotas consecutivas para a prefeitura em 1982 e 1988, graças às articulações do amigo e correligionário político, João Alves Filho, responsável pela construção de um “acordão”, reunindo no mesmo palanque adversários históricos, como os deputados Carlos Magno e Ivan Leite, finalmente se elegeu prefeito, em 1992. A candidata à vice foi Dayse de Oliveira Garcia (assistente social e esposa de Magno).
Teve que lidar com uma oposição dura, tanto no parlamento como na imprensa escrita. Um opositor contumaz certa feita o denominou de “Boneco de Olinda”, fazendo alusão à famosa cidade do frevo pernambucano.
De acordo com o auditor aposentado do Tribunal de Contas do Estado (TCE), José Francisco do Nascimento, ex-secretário de istração e de Finanças, foi na gestão do prefeito Nivaldo Silva (2 anos e 66 dias) que foi aprovada a Lei Complementar n° 01/1993, que estruturou a istração municipal, criando a guarda municipal, o Conselho do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e o gabinete da vice-prefeita.
Outra grande realização da gestão foi o processo de municipalização da saúde, em 1993, que teve o médico e secretário municipal à época, Humberto Piedade Ralim, como grande responsável pelas articulações das pré-conferências e da 1ª Conferência Municipal de Saúde. Vitória do controle social.
Nivaldão, como era tratado pelos mais próximos, percorreu o itinerário das famílias abastadas de Sergipe. Quando, infelizmente, percebeu a doença, viajou para São Paulo em busca de tratamento médico, mas o seu quadro clínico se agravou, e devido a complicações cardiovasculares, faleceu na fatídica noite de 07 de março de 1995, aos 72 anos. E em seguida a vice tomou posse.
Com a notícia do falecimento, o município entrou num clima de grande comoção, a população aguardou o corpo desde as primeiras horas da tarde do dia 08, porém o féretro só chegou por volta das 17h. Após uma rápida agem pela sua residência na rua Duque de Caxias, seguiu para o Cemitério Nossa Senhora da Piedade.
O comerciante e “Patrono da Guarda Municipal” (A Câmara aprovou a mensagem, em 2021), entrou maduro na disputa política, só realizou o seu grande sonho de gerir os destinos de sua terra após três tentativas, como faleceu no exercício do cargo, doravante será denominado prefeito Nivaldo Silva Carvalho.

José Domingos Machado Soares (Dominguinhos), professor e ex-vereador de Estância

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